segunda-feira, 18 de março de 2013

Niterói, a exemplo do Rio




Araribóia tem estado na maior escuridão...
De repente, sem mais nem menos, o impacto de uma notícia sobre grandes transformações em Niterói, publicada em coluna social do caderno “de bairro” de O Globo, em 17/03/2013:



Estado cede cinco prédios para Niterói revitalizar o Centro

Os prédios da Cedae, Emop, Detran e Ceasa, perto da Favela do Sabão, e o do Iaserj, avaliados em R$ 150 milhões, vão garantir o fundo de investimento que a prefeitura precisa criar para a parceria público privada com que pretende executar um projeto de revitalização do Centro. Os imóveis estão sendo cedidos a Niterói pelo governador Sérgio Cabral, e o prefeito Rodrigo Neves afirma que, com esses recursos e mais a participação das construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS, vai promover a requalificação urbana da área mais degradada da cidade. “Nosso objetivo é fazer ali voltar a ser um local de moradia, e não a vergonha que é hoje”, disse ele.
Trânsito e transporte serão priorizados
O projeto que vai ser tocado à semelhança do Porto Maravilha, no Rio, prevê uma nova hidroviária; novo terminal de ônibus e de metrô. A Estação Araribóia vai dar lugar a uma marina. Mergulhões na Marechal Deodoro e nos acessos à ponte vão melhorar o trânsito. As ruas ganharão um novo visual sem fios pendurados em postes. As redes de energia e de telefonia serão subterrâneas.”


É difícil acreditar que estas enormes construtoras estejam interessadas em recuperar, como “um local de moradia” (que não será para a classe A...), o Centro de Niterói. Moradia de gente comum é muito pouco para elas, as mesmas das maiores obras deste país, e sempre a fim de mais. E a “recuperação” do Centro de Niterói certamente vai ser voltada também para a expansão comercial, não apenas residencial.

Prédio residencial-comercial, quase padrão, no Centro de Niterói
Aliás, como é que estas construtoras já estão neste projeto?... Assim, sem qualquer licitação ou concorrência?... Sem que, ao menos, se saiba detalhes das propostas feitas pelos governantes?... Ou eles estão falando justamente do que elas, as construtoras, pretendem?... 

Mais uma vez (como em praticamente toda a série de projetos que vêm e vão transformando o Rio Metropolitano), vem a público ideia absolutamente pronta, certamente preparada, a contento, por construtoras cujos donos têm fácil acesso aos governantes, com quem até se divertem...

Curioso é que tão grande projeto apareça em pequena nota, em uma coluna social de caderno de bairro, ainda que de um grande jornal carioca... O padrão sugere uma tática de convencimento da opinião pública, a progressiva imposição de fazer com que a população “coma o mingau pelas beiradas”.

Trânsito cada vez mais pesado na baía da Guanabara
A nota é pequena, mas traz estranhezas... Por exemplo, a tal “hidroviária” será, supostamente, a nova estação das barcas, enquanto a atual se transforma em “marina”, dedicada, naturalmente, a outro tipo de público, uma espécie de estacionamento de barcos, como já propuseram na Praça XV, do outro lado. O pior não é o quanto ganham (e o usuário perde) com a mudança de local do embarque... 
Barca Rio-Niterói é apenas parte da viagem...
Significa, fundamentalmente, a oficialização do aborto da transposição da baía da Guanabara através de um túnel de metrô, projeto já centenário e plenamente viável pelas técnicas atuais. 


Nos projetos originais do Metrô para o Rio Metropolitano, consta a ligação (através de túnel sob a baía) da Linha 2 (a ser completada, com o trecho de Estácio à Praça XV, via Carioca) com a Linha 3 (Niterói-Itaboraí, no lugar da antiga ferrovia). Sabemos a quem interessa esta expansão: segundo pesquisas, 40% dos usuários das Barcas Rio-Niterói vêm de São Gonçalo para trabalhar no Rio. 
E a quem não interessa construir o túnel do Metrô sob a baía da Guanabara? Certamente, às empresas de ônibus, aos concessionários das Barcas e da Ponte, aos comerciantes do Centro de Niterói, aos políticos que lhes são próximos, e a quem mais?...

Vivemos numa República Empresarial e nela, depois de capturada a vontade quase indiferente dos eleitores, os que assumem o Estado estabelecem o jogo preparado pelos empresários.

Após a proposta do Estado mínimo, chegamos aos tempos do Estado útil. Neste Estado, tudo é negócio...
Atualizado em 19/03/13.