segunda-feira, 13 de junho de 2022

Beija-flor no namoro da imagem

Há poucos dias, o amigo amante de imagens Marcus Veras de Farias falou de sua interação fotográfica com um colibri impaciente, como, aliás, são todos... E eu lhe confessei minha frustração, nas visitas de um deles, com o resultado das fotos que tentei fazer.

Colibri paquera na janela - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
Eis que algo mudou no Dia dos Namorados: teria sido influência da data?... Não sei, nunca antes vi colibris ou beija-flores namorando. Mas, acho que aconteceu comigo.

Beija-flor no galho - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
Sim, eu bem que de vez em quando tentava fazer uma boa foto de um beija-flor ou colibri (está certo, sei: é a mesma entidade) que costuma vir sorver o néctar de umas plantas aqui de casa, e isso sem o equipamento apropriado, muito menos a tradicional armadilha de um doce bebedouro... 

Pois, nunca me deu um instante sequer de parada no ar que me sobrasse tempo para fotografar, desaparecia sempre como um raio silencioso que se esconde no céu.

Eis que neste fim de semana ouço da minha companheira de observações: "veja quem está ali na grade da janela"... Ora, um passarinho. Eu, fiel às oportunidades, busquei a câmera e comecei a fotografar. Mas, logo percebi o bico insolente, confirmando se tratar do meu já acostumado colibri dos beijos em flor.
Colibri em close - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022

Desta vez muito calmo, posando para fotos, longe das flores que beija em frenesi: aproveitei, fiz algumas.

Pois não é que menos de uma hora depois já me surgia entre as despreocupadas plantas uma agitação, e lá estava de volta o beijoqueiro!... Desta vez, não sumiu num jato, sossegou. Parou por longo tempo num galho como se me dissesse: "vamos continuar a sessão de fotos?" 

Continuei!... Agora, mais confiado na relação, me dei ao luxo de passar pela porta, de me aproximar mais alguns passos, e cheguei mesmo a fazer (sem avançar muito, dando zoom) um seu retrato!

Beija-flor na vertical - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
E o tempo todo o colibri calmo, assim como, digamos, um beija-flor quando não voa nem beija flores. 

Certamente estava me fazendo, na linguagem de penas e bico, um irônico desafio: entendi que de repente voaria e flutuando beijaria flores, e queria ver se eu faria uma foto decente, duvidava mesmo!

Beija-flor beija flor - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
Pois é, outra vez ganhou: fiz uma foto esquisita (ao sugar uma flor de ponta cabeça em meio à ramagem
, num excesso de malabarismo) e outra sem foco nem nitidez (pelas baixas luzes, em conflito com a velocidade louca de suas asas).

Tudo bem, certas perdas, ainda que perdas, podem ser prazerosas, se não são para sempre, acho... Colibri ou beija-flor, ele ou ela (nem pela palavra sei o gênero), que me espere: aguardarei, câmera em punho, a sua volta. Se o namoro começou, vale mais o arrepio do encontro do que o desejado resultado ideal.

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Reconsideração cabível: talvez, afinal, não queira nada comigo, não seja namoro de compromisso, devendo ter (como eu também) outro relacionamento. 

Desconfio agora que queira apenas me estimular a que lhe faça uma bela foto (ah, vaidade!), mesmo que jamais a veja, daquelas de que se orgulhará. E de que eu, na parede ou nas redes, também...