quarta-feira, 5 de abril de 2023

20. Com espanto nos óculos

Óculos numa ótica - Foto: Guina Araújo Ramos, 2023

 

Espantos, no mundo e na vida, não faltam!...
Para que não nos afoguemos neles, acho que faz bem à mente, de vez em quando, espanar um pouco seus efeitos, ainda que apenas em temas do varejo, e fazer sobre eles, os muitos espantos, alguns registros e reflexões.
Os óculos da imagem servem de referência visual para este meu recente espanto diante do, sei lá, "mercado oftalmológico" (?)... Simplificando, o meu espanto é sobre a forma como funcionam as óticas, estas simpáticas lojas que nos vendem óculos.
Fui a uma delas, vizinha e conhecida, e pedi orçamento para um óculos de que preciso, e que tem, reconheço, alguma complexidade. Gentilmente tratado, escolhi a armação e até uma segunda opção.
No fim da provação (no bom sentido!) dos modelos, a oferta da ótica foi de um óculos na faixa de R$4.500, o que, por experiência de usuário há 55 anos, achei muito caro. Porém, para meu espanto, o preço incluía outro!... Na real, a opção de comprar apenas um deles não se apresentava: o jogo duplo dos óculos é política de vendas do fabricante.
No caso, a marca Varilux. Surge da parte da ótica, então, uma alternativa (mas, com o mesmo esquema de vendas): um orçamento com outro fornecedor de óculos, a Kodak.
O que só aumentou meu espanto: não sabia que, após encerrar a fabricação de filmes e câmeras, e passar por uma maratona de transformações (consultem o Google e se espantem...), a Kodak é, agora, especialista na fabricação de óculos! Aí, outra surpresa, bem mais agradável: o preço da Kodak era uns 1.000 reais menor!
Porém, veio ainda o maior de todos os espantos, de uma confidência da vendedora: as lentes, tanto da Varilux quanto da Kodak, são fabricadas por uma mesma empresa!
Ela falou o nome, que esqueci, mas em casa pesquisei e descobri: trata-se da multinacional francesa Essilor, que é detentora da marca Varilux e é proprietária da atual empresa Kodak!
Em suma, se entendi bem, eu teria que comprar dois óculos (ainda que só precise de um), podendo optar entre duas marcas que usam material de um mesmo fabricante, uma delas (sabe-se lá porquê...) com preço 1/4 menos caro do que a outra!
Sim, sei, é translúcido que preciso pesquisar em outras das dezenas de óticas que me cercam aqui pelo meu bairro e adjacências (disputando em quantidade com as farmácias), e o farei. E sei também que tudo isto me relembra que sei de algumas teorias sobre monopólios e outras tradições do capitalismo...
Mas, por enquanto, e é questão de saúde mental e financeira, ainda estou acolhendo (e acalmando) estes meus novos espantos...
[A imagem, que me parece mais apropriada pela multiplicidade de óculos, foi obtida diretamente do mostruário de uma ótica. Outra, não aquela, mas com o mesmo padrão de atendimento...]

 

segunda-feira, 13 de junho de 2022

18. Beija-flor no namoro da imagem

Há poucos dias, o amigo amante de imagens Marcus Veras de Farias falou de sua interação fotográfica com um colibri impaciente, como, aliás, são todos... E eu lhe confessei minha frustração, nas visitas de um deles, com o resultado das fotos que tentei fazer.

Colibri paquera na janela - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
Eis que algo mudou no Dia dos Namorados: teria sido influência da data?... Não sei, nunca antes vi colibris ou beija-flores namorando. Mas, acho que aconteceu comigo.

Beija-flor no galho - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
Sim, eu bem que de vez em quando tentava fazer uma boa foto de um beija-flor ou colibri (está certo, sei: é a mesma entidade) que costuma vir sorver o néctar de umas plantas aqui de casa, e isso sem o equipamento apropriado, muito menos a tradicional armadilha de um doce bebedouro... 

Pois, nunca me deu um instante sequer de parada no ar que me sobrasse tempo para fotografar, desaparecia sempre como um raio silencioso que se esconde no céu.

Eis que neste fim de semana ouço da minha companheira de observações: "veja quem está ali na grade da janela"... Ora, um passarinho. Eu, fiel às oportunidades, busquei a câmera e comecei a fotografar. Mas, logo percebi o bico insolente, confirmando se tratar do meu já acostumado colibri dos beijos em flor.
Colibri em close - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022

Desta vez muito calmo, posando para fotos, longe das flores que beija em frenesi: aproveitei, fiz algumas.

Pois não é que menos de uma hora depois já me surgia entre as despreocupadas plantas uma agitação, e lá estava de volta o beijoqueiro!... Desta vez, não sumiu num jato, sossegou. Parou por longo tempo num galho como se me dissesse: "vamos continuar a sessão de fotos?" 

Continuei!... Agora, mais confiado na relação, me dei ao luxo de passar pela porta, de me aproximar mais alguns passos, e cheguei mesmo a fazer (sem avançar muito, dando zoom) um seu retrato!

Beija-flor na vertical - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
E o tempo todo o colibri calmo, assim como, digamos, um beija-flor quando não voa nem beija flores. 

Certamente estava me fazendo, na linguagem de penas e bico, um irônico desafio: entendi que de repente voaria e flutuando beijaria flores, e queria ver se eu faria uma foto decente, duvidava mesmo!

Beija-flor beija flor - Foto: Guina Araújo Ramos, 2022
Pois é, outra vez ganhou: fiz uma foto esquisita (ao sugar uma flor de ponta cabeça em meio à ramagem
, num excesso de malabarismo) e outra sem foco nem nitidez (pelas baixas luzes, em conflito com a velocidade louca de suas asas).

Tudo bem, certas perdas, ainda que perdas, podem ser prazerosas, se não são para sempre, acho... Colibri ou beija-flor, ele ou ela (nem pela palavra sei o gênero), que me espere: aguardarei, câmera em punho, a sua volta. Se o namoro começou, vale mais o arrepio do encontro do que o desejado resultado ideal.

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Reconsideração cabível: talvez, afinal, não queira nada comigo, não seja namoro de compromisso, devendo ter (como eu também) outro relacionamento. 

Desconfio agora que queira apenas me estimular a que lhe faça uma bela foto (ah, vaidade!), mesmo que jamais a veja, daquelas de que se orgulhará. E de que eu, na parede ou nas redes, também...

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

17. O vulcão da insensatez humana

Dando uma volta pela cidade do Rio de Janeiro, numa tarde de domingo, descendo a Av. Niemeyer na direção de São Conrado, entre a agitação das massas populares do Vidigal e rescaldos da ciclovia esfarrapada pelas águas (que intrépidos ciclistas, ainda assim, não deixam de usar), vejo ao longe, onde sempre esteve soberba a Pedra da Gávea, uma novidade na paisagem! 


Fogo na Pedra da Gávea - foto Guina Araújo Ramos, 22/08/2021
 

Serão nuvens passageiras?

Ou terá a montanha rasgado as vestes e se transformado (ressentida talvez com a cultura dominante local) em um vulcão geologicamente tardio?

No que me aproximo e percebo melhor as formas, tais arrepios urbanos se tornam precisos: é “simplesmente” um incêndio na mata rala da encosta da Pedra da Gávea, na vegetação ressecada de uma das montanhas mais turísticas do Rio de Janeiro.

Certamente, não uma questão apenas local: o Brasil politicamente pandêmico está todo pegando fogo, tanto metafórica quanto literalmente.

Parece evidente, e os cientistas já cansam de avisar, que, se não nos atentarmos rapidamente para este atentado ao país, e se não agirmos tão rápido assim para conter a insensatez deste incêndio, toda esta nossa insana agressão ao meio ambiente (que é de todo mundo, do mundo todo) logo se transformará na construção do mais destruidor vulcão que a Terra verá, até porque, como um verão eterno, consumirá a Terra, ao menos no que nos sustenta a vida.

Atados à nossa insensata fé em negócios rasteiros, nós, humanos, continuamos a atear o fogo desta progressiva erupção, cuja destruição final nem todos veremos, nem por muito tempo, enquanto a Terra, tórrida, seguirá sem nós...

Adendo radicalmente propositivo:

O desastre se aproxima, enquanto a orgulhosa orquestra capitalista continua engambelando os passageiros da Terra... Até crescem as discussões sobre a anunciada catástrofe ambiental, e é uma pena que a destruição que produzimos avance muito mais rapidamente...

Como evitar, para ficar na alusão, o duro choque com o iceberg?... Ou, talvez em imagem mais própria, a nossa queda no inferno?...

Sei não. Mas, tendo como referência o momentoso exemplo histórico, talvez seja necessário que surja no mundo um Talibã Ecológico...

Um movimento que, radicalizando a proteção ao meio ambiente, e abarcando todo o território terrestre, vença rapidamente esta luta inglória, e de tal forma que a gente se livre de vez dos que, há décadas, há séculos, destroem o nosso país e o mundo.

Uma organização que imponha a defesa do meio ambiente, e do varejo ao atacado. Desde, por exemplo, declarar inafiançável o crime da soltura de balões e preservar os espelhos de água e as suas fontes até organizar (talvez encerrar...), por completo e de supetão, aqui e no mundo, do garimpo ao agronegócio, entre outros males destruidores da Amazônia e de outras florestas.

Que a consciência nos leve à ação objetiva e salvadora!

Do jeito que está é que não vai ficar: só vai piorar...