As esferas políticas e econômicas se intercomunicam, são construções
humanas...
Os humanos das grandes empresas, com ajuda de políticos de
confiança, descobriram a expansão das cidades como vantajoso negócio. No Brasil,
a onda de recuperação de frentes marítimas ou fluviais (“waterfronts”), com evidente
inspiração estrangeira, tornou-se vagalhão... A toda hora, empresas ardilosas e
arquitetos escolados arrotam Baltimore e Barcelona sobre os subdesenvolvidos habitantes
deste país de extenso litoral...
Prédio de 40 andares e a cidade tradicional
Rua da Assembléia, 10
– Rio de Janeiro, 2013 |
Assim, através da surpresa e da propaganda, surgiu no Rio o Porto “Maravilha”, um verdadeiro castelo de Cepacs... Propôs, como se fosse de todo bom,
a construção de dezenas de prédios com até 50 andares. E também cortes
profundos, de remoções teleféricas no antigo morro da Favela (“civilizado” com
o nome de morro da Providência) ao bota-abaixo de vias urbanas, com implosivo destaque
para o elevado da Perimetral, a ser substituído (sem ganho expressivo de
mobilidade) por túneis e avenidas.
Sempre a prioridade para o
transporte individual (nada de Metrô na área), mais um dos excessos urbanos
capitaneado pela dupla que, toda hora, “volta atrás”... Quem sabe, com a
manifestação dos cariocas, não voltem atrás em relação à derrubada da Perimetral?...
Araribóia, fundador
de Niterói e defensor do Rio de Janeiro:
em seu lugar podem ser
construídos 2 prédios de 40 andares... |
Pois, muito pior do que esta imitação (que sai cara) é a imitação barata que terá custo alto!... Do outro lado da baía, um seu (deles) pupilo tenta emplacar uma Operação Urbana Consorciada, a OUC-Centro de Niterói, uma versão do Porto “Maravilha”, adaptação de versão proposta ao governo anterior, que seria a salvação da pátria temiminó, a tribo de Araribóia...
O projeto, oferecido a vários candidatos a prefeito (antes da eleição de 2012) por
construtoras nacionais (Odebrecht, OAS e Andrade Gutiérrez) e defendido por arquiteta formada em Barcelona, parece mais uma invasão extraterrestre...
Comparação entre a situação atual e o projeto da OUC Centro Niterói |
É grande a indiferença (como
aconteceu, a princípio, no Rio), mas críticas coerentes logo surgiram, por
entidades e profissionais ligados a questões urbanísticas e pelo Ministério
Público (que foi à Justiça), todos pedindo, até que se faça a atualização do
Plano Diretor da cidade (defasado há mais de 10 anos), a retirada do Projeto de Lei da Câmara dos Vereadores
Perfil previsto para
o Centro de Niterói, visto da baía.
Projeção do Projeto
OUC em Audiência Pública, Agosto/2013
|
Anúncio vende a vista e o prédio... |
A proposta é de tal modo alienígena e invasiva que até setores do mercado imobiliário, como a Ademi local, juntaram-se aos protestos, quando não tentam outras formas de “escapar à invasão”... Recentemente, foi posto à venda um prédio situado bem em frente à estação das barcas e o anúncio apregoa a vista que se tem “da janela para fora”. Uma evidente tentativa de se livrar de um futuro “mico”, porque o projeto da OUC permite, além dos mais de 15 (quinze) prédios de até 20 (vinte) andares entre o Caminho Niemeyer e a área antiga da cidade, a construção exatamente neste lugar (justo onde hoje está a estátua de Araribóia...) de dois prédios de até 40 andares!...
Entre tantos (que a discussão promete ir longe), dois pontos
podem ser destacados:
1) passam pelo Centro de Niterói cerca de 500.000 pessoas
por dia, ou seja, tantas pessoas quanto são os habitantes de toda a cidade!...
Este projeto não desenvolverá o Centro de forma harmônica,
orgânica, com a integração destas pessoas. A consequência mais geral, a médio
prazo, será a expulsão de moradores e de comerciantes de baixa renda, o que chamam
de “gentrificação”, entre outros malfeitos...
Para o Fórum UFF Cidades, é baseado na “atração do grande capital imobiliário, que expulsará a população e as atividades tradicionais”. Em seu lugar, a proposta, explicaRegina Bienenstein, da Arquitetura-UFF, é ampliar “a melhoria dos serviços urbanos; o estímulo ao aproveitamento dos imóveis vazios e subutilizados como moradia popular e de classe média; a organização do dinâmico comércio popular; a valorização do comércio já presente na área e o incentivo à recuperação do patrimônio edificado”;
Para o Fórum UFF Cidades, é baseado na “atração do grande capital imobiliário, que expulsará a população e as atividades tradicionais”. Em seu lugar, a proposta, explicaRegina Bienenstein, da Arquitetura-UFF, é ampliar “a melhoria dos serviços urbanos; o estímulo ao aproveitamento dos imóveis vazios e subutilizados como moradia popular e de classe média; a organização do dinâmico comércio popular; a valorização do comércio já presente na área e o incentivo à recuperação do patrimônio edificado”;
2) o trecho do Caminho Niemeyer em frente ao Centro (construído em área parcialmente aterrada, há décadas, para fins de especulação imobiliária) realmente precisa ser valorizado.
Caminho Niemeyer - Teatro Popular - Junho/2013 |
Em suma, a humanidade cresce e a cidades mudam, precisam
mudar...
As cidades pertencem aos seus habitantes e todos, a cidade e
as pessoas, devem crescer em consonância. Não podem ser tratadas como mercadorias,
tendo como parâmetro apenas o dinheiro e o lucro de alguns.
Governantes que aceitam agir desta maneira, privilegiando
interesses econômicos mesquinhos em troca de favores circunstanciais, estão
roubando do cidadão e da cidade o seu futuro.
Do outro lado da Urbe CaRioca, repetição do que foi feito na Zona Portuária do Rio. Em breve divulgaremos o ótimo artigo de Guina Ramos publicado no Blog Arrepios Urbanos. Só a Lota ressuscitando para fazer um parque livre de construções...
ResponderExcluirwww.urbecarioca.blogspot.com.br
Andréa Albuquerque G. Redondo
(via Facebook)
Obrigada por me incluir na divulgação do seu blog.
ResponderExcluirTomei a liberdade de colocar esta notícia sinistra do seu blog
na minha página do Facebook.
Achei uma tristeza o que você nos conta.
Abraço fraterno,
Astrid Luise
Valeu Aguinaldo
ResponderExcluireles não livram a cara de nada
abs Alcyr
O projeto é uma aberração.
ResponderExcluirRomildo Guerrante
LÁSTIMA e não desanimo “sou Ararigbóia”
ResponderExcluirEstou encaminhando aos amigos.
ResponderExcluirNós, Mulheres da Ilha de Paquetá
Quer dizer que a ambição alimentada pelas empreiteiras não escolhe sigla de partido...
ResponderExcluirComo assim?! Que loucura é essa?!
ResponderExcluirÉ inacreditável e mais parece, como se diz na gíria, caô.
Será que perderam o senso dos limites do bom senso?