Na legislação brasileira há suficiente
presença do conceito de “metrópole” como necessária forma de organização politico-administrativa
dos grandes aglomerados urbanos. Muito bom, mas ainda estamos longe de resultados
eficientes...
A característica fundamental desta recente
condição metropolitana ainda é a fragmentação, dado obviamente inerente às metrópoles,
que, conurbações induzidas por um grande centro urbano, desconsideram limites
municipais.
A fragmentação pode ser interessante
questão teórico-acadêmica, mas significa, na prática, para o cidadão, cruéis situações
cotidianas. No Rio de Janeiro Metropolitano, o sofrimento na mobilidade urbana
(termo da moda para “meios de transporte”) chega às raias do patético...
O lotação (e filhos) de Seu Oscar - Rio, 1952 |
Colcha de retalhos, por D. Nylza |
Ponto de ônibus no Trevo das Forças Armadas |
Por ali passam linhas de
ônibus que trazem trabalhadores da Zona Sul (através do túnel Rebouças) com pontos finais nas estações
São Cristóvão do Metrô e da SuperVia. A parada de ônibus deste local acaba servindo aos que precisam pegar
outro ônibus na Av. Francisco Bicalho, nos pontos em frente à antiga estação da Leopoldina, para eles único
jeito de acessar a Av. Brasil.
Caminhada para pegar ônibus para Av. Brasil |
Linha 2, entre Triagem e Maria da Graça |
Ampliando para o conjunto dos municípios do Rio
Metropolitano, vemos outras situações, até irônicas, como a interrupção da linha 2 do Metrô, no
bairro de Pavuna, a alguns metros da divisa com São João de Meriti...
Por razões geográficas, a maior
fragmentação da metrópole está na transposição da baía de Guanabara, uma considerável
limitação física, radicalmente exacerbada pela organização (?) dos nossos transportes.
Sobre este espaço os interesses da chamada “república
empresarial” deram um dos seus mais lucrativos botes... Um intrincado (mas
esperto) jogo de participações empresariais e benesses governamentais permite a um único grupo o domínio das ligações Rio-Niterói através da ponte e das barcas, o mesmo que assume
agora o futuro VLT do Centro do Rio.
Enquanto isto, nos últimos anos, numa
sucessão de más notícias, várias propostas foram sendo “esquecidas”. Recentemente,
o ex-prefeito César
Maia reconheceu as razões: “risco ao
equilíbrio econômico” de concessionária, “interferência do cartel dos ônibus”...
Entre os principais prejuízos para a mobilidade, a perda (ou adiamento?):
a) do projeto de conclusão da Linha 2,
entre Estácio e Carioca, seguido da sua transformação, via Central, em um “linhão”,
estendido até a Barra, para maior desconforto do carioca;
b) do túnel submarino do Metrô entreRio e Niterói, proposto para ligar a Linha 2 à futura Linha 3 (Niterói-Itaboraí), com extensão de 5,5 km e custo estimado em cerca
de R$ 900 milhões (menos que a reforma
do Maracanã), uma conexão fundamental para a integração
da Metrópole;
c) da própria construção da Linha 3 do
Metrô... Até há pouco tida como certa (inclusive pelo estímulo da ativação do
Comperj, em Itaboraí), já há indicações de que será substituída por uma Linha
3 em monotrilho...
O resultado destas decisões (sempre “econômicas”,
em vários sentidos) é a cristalizações de novas e antigas fragmentações, com seus
dramas populares...
De um lado, o Porto “Maravilha” do
Rio de Janeiro (e já se prepara o de Niterói...), que se tornará uma ilha, não necessariamente
de excelência... O VLT (um bonde fechado, para dar, de novo, ares europeus ao
Rio) será mais útil a passeio do que a trabalho. E, como não há previsão de transporte de
massa de qualidade para a área (apenas as velhas linhas de ônibus, nem o BRT...),
quem vier de longe (por trem ou metrô) terá mais uma baldeação a fazer.
É preciso passar uma nova linha de Metrô pelo Porto!... Se não, como alcançar a Gamboa-Maravilha ou a Saúde-Maravilha?... Todos com seu automóvel no engarrafamento e uma vaga de estacionamento reservada?... Para uma área que, até 2020, deve crescer de 22.000 para 100.000 habitantes, com potencial imobiliário de 50 bilhões de reais (embora haja dúvidas), o ideal é que uma nova linha de Metrô a atravesse.
É preciso passar uma nova linha de Metrô pelo Porto!... Se não, como alcançar a Gamboa-Maravilha ou a Saúde-Maravilha?... Todos com seu automóvel no engarrafamento e uma vaga de estacionamento reservada?... Para uma área que, até 2020, deve crescer de 22.000 para 100.000 habitantes, com potencial imobiliário de 50 bilhões de reais (embora haja dúvidas), o ideal é que uma nova linha de Metrô a atravesse.
Pça. XV, Rio: problema nas barcas... fila até o Paço Imperial |
A massa de trabalhadores, que todo
dia vai e volta de São Gonçalo ao Rio, continuará mudando de ônibus ou monotrilho
para barca e de barcas para VLT ou ônibus, num lado ou outro. O custo em
dinheiro até pode ser aliviado por cartões de integração, mas a fragmentação das
vias continuará provocando dolorosa perda de tempo em suas vidas.
Niterói: movimento intenso no terminal de ônibus |
Dinheiro, aqui, mais uma vez, é a
chave... Faltando interesse no planejamento de longo prazo, a porta está
fechada para a mobilidade, apesar de todo o dinheiro que circulará pela região metropolitana,
com o pré-sal etc.
E predominando interesses empresariais parciais, com o imprescindível apoio dos governantes, o dinheiro continuará circulando em poucas mãos e mais portas ficarão fechadas para os cariocas...
E predominando interesses empresariais parciais, com o imprescindível apoio dos governantes, o dinheiro continuará circulando em poucas mãos e mais portas ficarão fechadas para os cariocas...
Aguinaldo
ResponderExcluirParabéns, as matérias de hoje estão ótimas. Mandei para uns amigos e amigas apreciadoras de boas matérias sobre cidades.
Abraço, Nireu.
Guina, os projetos em curso para o Rio não falam uns com os outros, não há intermodalidade, não há conexão. O VLT não vai falar com as barcas (que, parece, vão sair dali quando derrubarem a Perimetral). Cada um bota um sistema puxando para um lado, totalmente descoordenado. O Rio se prepara para o caos ainda maior que na década de 50, a época dos lotações que você cita, que eu conheci muito bem. Esticar a linha do metrô para a Barra, da forma como fizeram, é criminoso, pois não há no mundo controle eletrônico que seja capaz de soltar trens de minuto em minuto para fazer face à demanda. O tamanho da composição tem limites, a frequência também. Quando você quer aumentar a capacidade do sistema você mexe nessas duas ponderadas, frequência e capacidade. Não estão nem aí pra isso.
ResponderExcluirSalve Guina!
ResponderExcluirQue legal o seu trabalho sobre o espaço urbano!
Grande abraço,
seu "quase" xará,
Guinho
[via e-mail]
Super!
ResponderExcluirEstás massacrando os urbanistas com esse SHOW de informações/imagens/propostas!
Lembrando que o "monopólio" da travessia Rio-Nichteroy é muito antigo!
O D E S L U M B R A N T E Parque Lage, foi erguido como "presente" de casamento do Comendador Lage à soprano Gabriela Bezanzoni
com os fabulosos lucros provenientes da exploração da referida travessia.
Abração,
Band.
[por e-mail]
Tive dificuldades em abrir seu Blog, mas consegui.
ResponderExcluirMuito boas as questões que você levanta, continue.
Um abraço,
Heloisa Igreja
Guina, meu amigo, lendo teu texto, finalmente encontrei a voz lúcida. Exatamente no momento em que estou ouvindo a Sérgio Besserman na CBN. É foda, viu, ver o Rio de Janeiro dentro desse circo espetacular, sem ações articuladas por falta de interesse político. Belo texto e comentários também interessantes. Infelizmente, nunca somos ouvidos. Impera uma arrogância de dar nojo!
ResponderExcluirMuito bom texto, Guina!
ResponderExcluir[via Facebook]
Embora eu concorde em que nunca somos ouvidos, é importante uma voz como a sua, que sempre se levanta contra esses abusos. Texto da maior utilidade.
ResponderExcluir[via Facebook]
Excelente argumentação - clara, coerente e inteligente. Parabéns!
ResponderExcluirBjs, Isa
Há tempos não lia seus posts, achei tudo interessante,
ResponderExcluirsuas análises das transformações que estão ocorrendo na cidade
são pertinentes.
Parabéns pela postagem...e pela qualidade do BLOG.
ResponderExcluirabraços